Confissões de SANTO AGOSTINHO



"Confissões" de SANTO AGOSTINHO


Comecei esta resenha de mil maneiras, e apaguei todas. Quando já me ia enchendo de raiva por não conseguir começar, simplesmente escrevi: não sei como alguém pode se dizer cristão sem ter lido "Confissões" de Santo Agostinho, livro no qual ele relata sua busca ansiosa pela existência de Deus, que ele quer amar de forma plena: mente e alma, razão e coração. 

E depois de ler o livro não sei como qualquer pessoa, independentemente de ter ou não uma religião ou uma crença espiritual, pode não se deixar envolver pelo homem bem comum que parte na sua busca interior pelo divino. Se é verdade que, como disse o poeta espanhol Antonio Machado, "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar.", pode-se dizer  que Santo Agostinho, se não faz caminho, o ilumina para todos nós. 

Santo Agostinho busca a espiritualidade esmiuçando, esquadrinhando cada aspecto das Escrituras, de modo que tudo ecoe dentro dele, que faça sentido. Sua linguagem, ao mesmo tempo racional e poética, porque analisa a fé que ama, é a mais pura análise metafísica, a filosofia primeira. Sem permitir contaminar sua fé com ideias que circulavam na época em que ele viveu, Santo Agostinho deixa que essa fé lhe esclareça as dúvidas, lhe apontando respostas, e essas respostas lhe satisfaçam e lhe façam retornar ao deslumbramento da mesma fé com que ele inicia seus questionamentos. 

Ele é o investigador da alma humana que procura o divino, sendo apenas humano.
("E onde estava eu quando te buscava? Certamente, estavas diante de mim, mas eu me havia afastado de mim mesmo, e não me encontrava, e muito menos a ti!")

E ainda que ele tenha apenas o instrumento do pensamento, nos avisa que devemos saber utilizá-lo, porque "... a morada terrena deprime a mente que pensa em muitas coisas." Portanto, não é o pensar, e sim o como pensar, já que a mente nos prepara ciladas na forma condicionada pela qual aprendemos a ver o mundo. ("Minhas alegrias, dignas de serem choradas, lutam com meus sofrimentos, pelos quais deveria alegrar-me, e ignoro de que lado está a vitória.")

Ler as "Confissões" pode não ser tarefa fácil, e nisso o livro imita a dura ascenção do homem ao nível da espiritualidade. Mas a tarefa se cumpre quando, como Santo Agostinho, a conversão se faz não na aceitação, que é um peso assumido, mas quando a vontade de Deus se torna a nossa vontade. ("Dá-me o que mandas, e mandas o que quiseres!")


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