Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2020

100 frases selecionadas de NELSON RODRIGUES

Imagem
100 frases selecionadas de Nelson Rodrigues A adúltera é a mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível. A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem. A liberdade é mais importante do que o pão. A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão. A pior forma de solidão é a companhia de um paulista. A platéia só é respeitosa quando não está a entender nada. A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira. A televisão matou

SHAKESPEARE - Soneto 116 e três traduções

Imagem
Sonnet 116 Let me not to the marriage of true minds Admit impediments. Love is not love Which alters when it alteration finds, Or bends with the remover to remove. O no! it is an ever-fixed mark That looks on tempests and is never shaken; It is the star to every wand'ring bark, Whose worth's unknown, although his height be taken. Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks Within his bending sickle's compass come; Love alters not with his brief hours and weeks, But bears it out even to the edge of doom. If this be error and upon me prov'd, I never writ, nor no man ever lov'd. Soneto 116 De almas sinceras a união sincera Nada há que impeça: amor não é amor Se quando encontra obstáculos se altera, Ou se vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, Que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante, Cujo valor se ignora, lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora Seu alfange não pou

Um Discurso Inaugural, de JOSEPH BRODSKY

Imagem
UM DISCURSO INAUGURAL, DE JOSEPH BRODSKY   Senhoras e senhores da Turma de 1984: Por mais ousados ou cautelosos que vocês decidam ser, no decorrer de suas vidas estão destinados a entrar em contato físico direto com aquilo que é conhecido como o Mal. Não estou me referindo aqui a um elemento do romance gótico, mas, para dizer o mínimo, a uma realidade social palpável que vocês não têm como controlar. Por mais que sejam pessoas de boa índole ou lancem mão de cálculos precisos, não há como evitar este encontro. De fato, quanto mais calculistas e cuidadosos formos, maior será a probabilidade deste encontro, e mais forte seu impacto. A estrutura da vida é tal que aquilo que vemos como o Mal é capaz de uma presença bastante difundida, mesmo porque tem a tendência de aparecer sob o disfarce do bem. Vocês nunca irão vê-lo atravessando a soleira de suas portas e se anunciando: “Olá, eu sou o Mal!”. Isto, é claro, indica sua natureza secundária, mas o consolo que podería

Madame Bovary GUSTAVE FLAUBERT

Imagem
MADAME BOVARY Emma Bovary casou-se, mudou-se para Tostes, teve uma filha. E pronto. Madame Bovary (Madame Bovary, Gustave Flaubert, L&PM Pocket, 2010) se resume a isso, e é exatamente isso a causa da desgraça de Emma Bovary. Uma mulher de sua época, suas perspectivas de vida se resumiam em casar-se, ter filhos e nada mais;  era o que  ela almejava; a que se podia esperar naquela época. Porém, essa existência limitada foi a causa de sua loucura ou aventura, dependendo de qual lado da moral você se encontre ao ler a obra. Emma era perseguida pelo que persegue todos nós: não existe emoção que não se apague com sua satisfação; um desejo conquistado é o fim daquele desejo. E não resta ao louco/aventureiro outra opção senão a de partir para a realização de outro desejo. Emma é uma sonhadora incansável, alimentada pelos romances que lia, histórias de amor que imaginava possíveis para ela. Tal como os livros, a história só durava até acabar. A felicidade da heroína é uma monotonia

A Fogueira das Vaidades TOM WOLFE

Imagem
A FOGUEIRA DAS VAIDADES Hollywood fez de A Fogueira das Vaidades uma black comedy pastelão. Pode-se traduzir black comedy por comédia de humor negro, uma tradução questionada pela patrulha do politicamente correto, que proíbe e censura em nome da liberdade e do direito de expressão.  A Fogueira das Vaidades ( The Bonfire of the Vanities , Tom Wolfe, 1987, Ed. Rocco), não poderia estar mais longe de uma comédia, mas expõe com a merecida ironia a forma opressora e incorreta e, por isso mesmo, injusta e ineficaz pela qual qualquer pessoa, minoria ou não, é usada para servir a interesses diversos.  O livro narra a queda do céu ao inferno de um investidor do mercado financeiro de Wall Street ao ser acusado de atropelar, na companhia da amante, um jovem negro no lado pobre da cidade, e da movimentação dos diversos setores da sociedade para a solução do caso. Não que haja qualquer preocupação com o destino do jovem atingido pelo carro do figurão de Wall Street. Na Nova Yor